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Venda direta cresce 17,2% e torna-se opção de carreira

O que antes era um complemento de renda, hoje é uma profissão para muitas pessoas

O setor de vendas diretas está crescendo significativamente a cada ano. Os exemplos mais tradicionais no ramo são Natura e Avon, mas marcas como Hermes, Jequiti, De Millus e Lumi Cosméticos também já descobriram as vantagens desse modelo de negócios. Segundo Paulo Quaglia, diretor-presidente da Associação Brasileira de Empresas de Vendas Diretas (Abevd), a entrada de novos competidores é uma forte demonstração de que o “porta a porta” é cada vez mais atraente para companhia de todos os segmentos.
De acordo com dados da Abevd, em 2010, o volume de vendas foi recorde e totalizou R$ 26 bilhões, 17,2% maior do que o registrado em 2009. Descontada a inflação no período, que foi de 5,9%, o crescimento real foi de 11,3%.
20062007200820092010
Volume nominal de negócios (em bilhões)R$ 14,5R$ 16,2R$ 18,5R$ 21,9R$ 26
Associação Brasileira de Empresas de Vendas Diretas



Em 2010, ainda segundo o levantamento, as vendas diretas foram responsáveis pela geração ou complementação de renda para 2,74 milhões de famílias brasileiras. Isso representa uma soma 12,2% superior ao atingido nos 12 meses anteriores.

Visto no passado como uma ocupação informal, ou como uma complementação de renda para profissionais assalariados, o setor de vendas diretas tem hoje uma estrutura profissional para oferecer aos interessados. “O profissional forma sua equipe, tem uma região de trabalho e ganha comissões. Isso acaba se tornando um atrativo para ser a carreira principal de muitas pessoas”, conta Caio Infante, diretor de marketing e comercial da consultoria organizacional Fellipelli.
Com isso, o perfil dos revendedores vem se diversificando com o passar do tempo. As donas de cada ainda são maioria, mas já existem profissionais liberais, aposentados, estudantes e até empreendedores, que investem em venda direta como uma opção de carreira. “Muitas pessoas acabam se dedicando exclusivamente a esse tipo de atividade.”
Infante destaca que o público feminino continua sendo o predominante, mas não é mais exclusivo. “A pessoa se torna empreendedora e, por ser um negócio barato, sem compromisso, qualquer um pode correr o risco.”
Monica Vaidman, de 52 anos, é formada em psicologia e sempre trabalhou com recursos humanos. Com o nascimento de sua filha, resolveu abandonar sua profissão. “Por coincidência, uma colega minha do trabalho, que também saiu, começou a trabalhar na Betterware Brasil, uma empresa de venda por catálogo que veio da Inglaterra.”

A flexibilidade e o contato com as pessoas foram o que mais atraiu Monica para essa área. “Com a venda direta tenho mais liberdade, é um negócio meu. É dinâmico e depende de você. Quanto mais investe, mais você ganha.”
Em nenhum momento Monica diz se arrepender por ter largado sua carreira de psicóloga. “Faço meu horário, consigo conciliar com academia, buscar minha filha na faculdade e sair com as minhas amigas. Além disso, tenho muito prazer no que faço.”
Desde meio passado, Monica atua como promotora da Lumi Cosméticos, em São Paulo, e acredita que a pessoa tem que gostar do que vende. “Você tem que confiar naquilo. Tem que passar para as pessoas que vão comprar e você irá recrutar que aquilo é bom.”
Rendimentos
Segundo Paulo Quaglia, os rendimentos do profissional de venda direta variam de acordo com alguns fatores: tempo investido, carteira de clientes e conhecimento do perfil dos consumidores.
Além disso, Infante lembra que o resultado depende também da região que a pessoa trabalha. “Se é em São Paulo, provavelmente vai vender mais do que no Nordeste, por exemplo.” Mas, segundo ele, uma média de salário é em torno de R$ 2 mil a R$ 3 mil. “Isso, claro, para aqueles que fazem disso sua carreira. Tem gente que pode ganhar até R$ 10 mil e há aqueles que ganham R$ 500, porque não se dedicam. Depende de cada um.”
Monica afirma que desde que começou na Lumi Cosméticos o máximo que já ganhou foi R$ 1,5 mil. “Mas também ganho prêmios quando atinjo a meta. São produtos que posso vender, e com isso tiro mais uns R$ 2 mil.”
A promotora destaca que teve uma queda financeira considerável depois que largou seu emprego fixo, mas não se arrepende. “Em termos de atividade, tenho muito mais prazer no que faço hoje. E, para mim, a questão financeira não pesa tanto, porque tenho meu marido que me ajuda. Então consigo manter o meu padrão.”
Carga horária
A venda por catálogo oferece uma grande flexibilidade de horário para quem compra e vende. “Mas quanto mais a pessoa dedica seu tempo às vendas, incluindo também estudos sobre técnicas de vendas, maior a chance de aumentar os ganhos”, ressalta Quaglia.

Infante acredita que a jornada é de 24 horas. “Como o profissional é autônomo, ele trabalha quando sente vontade e pode ser a qualquer hora e quanto tempo desejar. De repente, ele está em um churrasco e fala que está vendendo um produto. Mostra o catálogo e acaba fazendo uma venda em um encontro com amigos, quando teoricamente ele não estaria trabalhando.”
A carga horária de Monica, por exemplo, é bem tranquila. “Temos um fechamento quinzenal. Então, duas vezes por mês, trabalho o dia todo. Tenho que ver e-mails e passar os pedidos pela internet. Mas, nos outros dias, trabalho no máximo 4 horas”, conta.

Treinamentos
As empresas oferecem treinamentos para seus revendedores, mas, segundo Quaglia, os profissionais também podem aprender técnicas com leitura sobre vendas.
Infante conta que, geralmente, os revendedores recebem um kit de entrada que explica técnicas de venda e dá dicas sobre o que falar e como agir. “É só um básico, mas aqueles que se destacam numericamente acabam tendo mais atenção e suporte das empresas.”
Monica conta teve treinamentos dos produtos e visitas à fábrica para conhecer o processo de produção na Lumi. “Mas geralmente as empresas acreditam que aprender técnicas é algo que a vendedora deve ir atrás.”